quarta-feira, 21 de novembro de 2012

VICE DE TUDO...E DE TODOS!

 

Além de vice de tudo, o Vitória avançou mais um pouquinho para ser considerado também vice de todos. Vamos aproveitar a derrota, em mais uma decisão, para atualizar a coleção rubro-negra de vice-campeonatos estaduais. Quem tiver com um pouquinho de tempo, poderia nos ajudar, pesquisando em outros campeonatos estaduais, se há algum time no Brasil vice de nove clubes diferentes. É provável que o Vitória seja o segundo colocado nacional neste ranking e tenha algum com mais parceiros campeões. Eis a coleção, dedicada ao leitor número 1 Carlos Santana, Jaqueline Adans, amiga do Facebook e todos os companheiros tricolores, que vão tirar esta segunda-feira para zoar os rubro-negros: trabalharam certo, em todos os segmentos, e estão de parabéns em festejar o vice rubro-negro de 2011, já que as taças também lhes têm faltado há 10 anos:

São Salvador 1906/1907
 

A história de vices do Vitória começa quando Salvador não tinha nem água encanada. Os amigos tricolores que vão à Ribeira tomar sorvete ou apreciar a paisagem, não devem deixar de tirar um retrato em frente à sede do Clube de Regatas São Salvador. Ali está o marco zero. Tudo por causa de uma briga entre dois rubro-negros. Eles jogavam cricket, um esporte meio chatinho com uma bolinha atirada com um bastão. Ficou combinado que quem jogasse a bola fora do campo ia buscar pois em 1905 não se tinha inventando gandula. Carlos Costa Pinto jogou a bola longe e não quis buscar. Artêmio Valente, que era meio o dono do time, mandou ele ir buscar; Costa Pinto não foi. Os dois saíram na mão e a turma do deixa-disso apartou. Mas o racha foi fatal: Costa Pinto levou 20 ex-rubro-negros para fundar o time de futebol do São Salvador, que na época, se vestia de amarelo e preto, por isso chamado de Gurinhatá, uma ave com esta mesma coloração na plumagem. No campeonato de 1906, disputado no antigo Campo dos Martyres, hoje Campo da Pólvora, o Vitória tomou 2×0 do São Salvador e depois empatou de 0×0. Já em 1907, o futebol baiano se mudou para o Rio Vermelho, onde hoje é a Rua Fonte do Boi, sede do restaurante Manjericão, de meus amigos Almir e dona Duca. Neste lugar, o Vitória “conquistou” o bi-vice do São Salvador, que depois passou a verde-e-branco: tomou 1×0 no jogo de ida e empatou de 2×2 na última partida.
 
Sport Bahia 1911
 


Antes, muito antes de colecionar vices do Bahia tricolor, o Vitória foi vice de um Bahia alvinegro. Era o Bahia Foot Ball Club, criado a partir do São Paulo-Bahia Foot Ball Club, um dos pioneiros fundadores da primeira liga em novembro de 1904, junto com o Vitória, o Internacional de Cricket e o Bahiano de Remo. O Vitória empatou de 2×2 com este Bahia e perdeu de 2×0.
 
Atlético Salvador 1912
 
 



No último ano da Liga dos Brancos, que era assim chamada por seu perfil racista, o Vitória saiu como vice-campeão. Empatou de 1×1 com o Atlético de Salvador e perdeu a última partida de 1×0. Depois deste vice, o Vitória deu um tempo, pois o clube de origem elitista demorou a aceitar a convivência com os afrodescendentes e trabalhadores. Nascia a Liga dos Pretinhos, como ficou conhecida a instituição que passou a organizar o futebol baiano na era de predomínio do Ypiranga, o Mais Querido, por aceitar em seus quadros os afrodescendentes e os trabalhadores de origem humilde.
 
Galícia 1942
 
 


O primeiro vice do Vitória no Campo da Graça marcou a escalada do Galícia rumo a sua principal glória, o tricampeonato 1941-42-43 e a fama de demolidor de campeões. E de vices também, no caso do rubro-negro, que só viria a ganhar um título em 1953, depois do bi de 1908/1909. Como nos conta João Paulo Oliveira, em seu inédito trabalho ‘Glórias e Tragédias do Demolidor de Campeões’: “ a cada gol marcado, a expectativa pela volta e a saudade da Espanha eram diminuídas com a vontade cada vez maior de estar com os compatriotas nas arquibancadas de madeira da Graça, todos juntos na chuva e no sol, na esperança de resgatar o sentimento de vitória, como nas festas a cada colheita das lavouras que deixaram para trás na terra natal. As bengalas dos mais velhos e os chapéus dos mais novos eram a representatividade da elegância galega nos estádios, onde muitos iam orgulhosos pelo time que torciam e vestidos sob medida pelo grande fundador do Galícia, o alfaiate Eduardo de La Iglesia”. O Vitória podia empatar no último jogo, mas perdeu.
Bahia 1947, 1950, 1958 a 1962, 1974 a 1976, 1979, 1981, 1988, 1993, 1994, 1998
 
 
 
 
O Bahia, este tricolor, tal como o conhecemos, é o maior carrasco do Vitória, seu vice 14 vezes. Em 1947, um vice contestado, segundo os jornais, em razão de um pênalti claro de uma mão na bola do zagueiro Zé Grilo, quando o jogo já estava 1×0 para o Vitória, que poderia ampliar com este lance, se a penalidade tivesse sido marcada. O tetra do Bahia em 1950, na despedida do Campo da Graça, teve o Vitória como vice. O Vitória é ainda recordista de vices seguidos. E, se não conseguiu ser pentacampeão, não pode livrar-se do “título” de pentavice, entre 1958 e 1962. O vice de 1974, e não 75, como escrevi na primeira versão deste texto, foi “conquistado” com um jogador a mais que o Bahia, campeão com um gol de Piolho. Informação corrigida pelo visitante do Página Ímpar de nome Luiz, a quem agradeço.
E o de 1976, teve Beijoca como algoz: o Vitória tinha conquistado duas fases, tinha 1×0 no placar e um pênalti a favor para conquistar a terceira das quatro fases da disputa. Osny bateu, Joel Mendes pegou, Beijoca virou e o Bahia cresceu para ser tetracampeão.





1979 foi o ano marcado pelo frangaço de Gelson, em chute fraco de Fito.
1994 foi o ano de Raudinei, com o gol nos acréscimos.





O título de 1998, tendo o Vitória como vice, marcou a criação da empresa Bahia Sociedade Anônima, em acordo com o Banco Opportunity, que todo mundo já esqueceu seus efeitos. Mas atenção: este foi o último ano que o Vitória foi vice do Bahia. De lá pra cá, o Bahia foi sete vezes vice do Vitória. Amigos tricolores, sei que gostam de repetir os fatos que são apenas a seu favor, mas não há muito o que curtir quando o assunto é o duelo de vices Ba-Vi: o Vitória foi 16 vezes vice do Bahia, e o Bahia foi 15 vezes vice do Vitória. Se fizermos uma linha do tempo, as temporadas mais recentes são amplamente favoráveis ao Vitória: é a primeira vez que um dos dois rivais impõe um tabu tão severo de sete vezes vice sem o outro reagir. Ou melhor, reagindo, mas apenas pela emoção obtida por terceiros, o Colo Colo de Edinei e o Bahia de Feira de João Neto. Sejam econômicos nas gozações, pois o mar também não está pra sardinha não.


Ypiranga 1951
 
 



O último título do Ypiranga foi no primeiro ano da Fonte Nova, em 1951. O primeiro vice deste novo tempo para o futebol baiano ficou para o Vitória, que viu, assim, adiado mais uma vez, o sonho de ser campeão. Curioso é que uma certa lógica, bem superficial, indicaria que um clube condenado a fracassar tantas vezes no final teria de se apequenar, por conta da desistência que poderia desmotivar uma comunidade incapaz de festejar uma taça durante décadas. No entanto, algo humano, demasiado humano, aconteceu com o Vitória, que crescia mais e mais, tornando a persistência sua melhor qualidade, como herdeiro da melhor tradição do desporto. O fato de ter nascido em 1899 com a missão de criar o esporte, fundando todas as federações, provavelmente construiu um alicerce quase espiritual para a fé inabalável na vitória que virá, mesmo que às vezes não sorria ao decano, como o clube ficou conhecido, por ser o pioneiro.

Leônico 1966
 
 



O Vitória estava para ser tricampeão em 1966, quando apareceu o Leônico na final. O único título do Moleque Travesso teve o Vitória como vice. Guiovaldo Veiga, filho do fundador Osvaldo Veiga, tem tudo em seu museu do Leônico, que todo desportista deveria visitar, pois provavelmente é a mais bem guardada memória de uma agremiação desportiva de Salvador.
Os exagerados diziam que o Leônico treinava numa ladeira, na Soledade e, assim, pegava um preparo físico de fazer inveja.

Colo Colo 2006
 
 

O Vitória tava pra ser penta em 2006. O Colo Colo de Ilhéus não deixou.
 
 
Bahia de Feira 2011
 
 


Outra vez pertinho do penta, o Vitória perde para o Bahia de Feira, um vice inédito, o nono carrasco do Vitória, vice de tudo e no caminho de ser de todos. Mas ainda faltam muitos: Atlético de Alagoinhas, Vitória da Conquista, Serrano, o Itabuna, se subir… Feirense; falta também o Fluminense de Feira, campeão em 1969 com um triunfo de 1×0 sobre o Vitória, mas naquele ano o vice foi o Galícia. Não vamos esmorecer!

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